Poemas
Os poemas dispostos neste espaço são de minha autoria e estão organizados em ordem alfabética. Eles podem ser reproduzidos sem autorização prévia, desde que a fonte seja citada.
Acreomático
Minh’alma se clorifilou
tal qual os filhos das palafitas
E minhas palavras
(Tal qual catraia)
Deslizaram na poesia dos meus amados Moa e Juruá.
E vi a seringa escorrendo nos versos
acreanos por opção.
Criancei-me quando
Acreditei em minha acreanidade.
Minha acridez adocicou-se
E minhas noites foram iluminadas
Por centelhas que insistem em ser,
“no regaço da Terra assombrosa”,
Cruzeiro do Sul.
À Lagoa da Salina
Saudades de ti,
sublime e elegante salina.
Coalizadas com a prata do céu
são tuas águas
nas noites encantadoras de lua
Musa dos poetas.
Chico Luís tuas lágrimas declamou,
Gilnei padeceu a tua falta,
Foste poemizada por Félix
Deles todos, musa te tornaste.
Durante o dia és puro ouro
À noite, prata formosa
paraíso dos botos,
nem os igarapés, estradas dos ribeirinhos,
Igualam-se a ti,
espelho de Deus!
Os artistas acorrem a ti
És para eles, todo o encanto
A pedra do Cristo é teu brinco, menina.
e a canção de tuas águas
era também a minha canção.
Às tuas águas uniam-se os meus acordes.
Agora, longe estou eu de ti,
Garota do centro da cidade.
Não haverá nunca
Águas que mais me fascine,
que mais ame e admire
que as tuas, minha menina.
Lago sublime de águas mansas,
Lagoa da saudade,
Lagoa da Salina.
Canaã
Felicidade
Grande festa
Um banquete
Um céu
De meninos perdidos…
nesta lata
de lixo!
Canção de ninar
Mas ela me rouba os travessões
que é para não ter diálogo.
E boceja a todo instante,
desconcertando o meu poema,
que teima na página.
E como uma pena ao vento
Vai deitando em seu berçinho mimético
Escondas teus travessões.
Não fales mais!
A poesia já dorme.
Dicotomia
Não você!
Onde você não está.
Não eu!
Onde não estou.
Vamos polarizando
Nossas vidas
Tão dicotômicas
Milagre
Soltinha no espaço
Nenhuma gotinha se derrama…
Vivo com
a água,
a bola
e o uni
(verso)…
Minhas três luas
que vai diminuindo e se perdendo
no lençol escuro da noite
as estrelas somem
e a lua diminui
Então, eu grito para ela se congelar no lago.
E misteriosamente se torna três:
A do lago
E esta aqui (do meu peito)
O vento e a seringueira
Não balances a seringueira.
Não vê que estou a pintá-la?
Ela pousa pra uma tela.
Não fiques enciumado…
Posso te pintar também
Esta pose está ótima:
Você acariciando os cabelos dela.
Olha o passarinho…
Flash!
O verso
Os lenços agasalham as lágrimas
As lágrimas acastelam o silêncio
O silêncio hospeda o grito
O grito asila a tristeza
E a tristeza tem o verso por ela
Palafitas
Fitam-me as palafitas.
Graciosas e primitivas,
erguem-se sobre as águas
e elas são tão nortistas, poéticas e acreanas,
tão teimosas.
Inconformadas não se sabem casas ou barcos com pés
Na dúvida,
são apenas palafitas parafilhos pobres
Pássaro cósmico
que o primeiro século se calendarizasse
que as galáxias se organizassem
que a primeira imagem acústica se fizesse ver,
que a primeira letra [solitária]
buscasse outras para formar a primeira palavra,
que o primeiro verso conhecesse a intransitividade lírica,
já havia poesia
Pietá
Para Michelangelo
sombria…
Eu o via”
adia
o
Dia.
Quintaniando
Quis com Quintana construir uma alcateia
de estrelas
Para uivar para uma constelação
de lobos
E rasgam o coletivo
E me deixam um cardume de versos tortos
Rascunho
Negro, nu e solto…
Descortinaram-me a alma
E fiquei
Negro, nu e solto…
acreditei
amei
Deixaste-me rascunho inacabado
Negro, nu e só…
Arte final.
Renitente
espera pelo poeta
o som para ser emitido
a cor para colorir
Espero-te para viver
O som não ouvido
A cor não pintada
O poema não escrito
Espero-te para viver
Tu não virás
Mas
Espero-te para viver
Sinestesia
Sinta
a sintaxe do vocativo que te chama.
Embora doa e moa o pensamento.
Mas não posso ser teu predicado.
também pode ser intransitivo.
Tudo dependerá de nossa cama sintagmática
Deitemos nela e veremos.
Triângulo
e não conseguiria poemizar o prazer do papel,
mas entendo bem o resultado deste encontro
Não como o de
Capitu,
Bentinho e
Escobar
A tinta,
o papel e
o poeta
Verbo intransitivo
A água corre
O igarapé tremula
O seringueiro morre
Alguém escreve
E o intransitivo é